Os associados do Sport Club Corinthians Paulista votam, neste sábado (9/8), o impeachment definitivo do presidente afastado Augusto Melo. A definição acontece na sede social do clube, localizado no Parque São Jorge, na zona leste de São Paulo. Esta será a segunda votação, a primeira aconteceu no final de maio e decidiu afastar temporariamente o mandatário.
Na ocasião, o Conselho Deliberativo do clube decidiu aprovar — por 176 votos a favor e 57 votos contrários — o afastamento de Augusto Melo. Neste sábado, os associados decidem se o dirigente retornar ao cargo de presidente ou é afastado definitivamente.
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A principal torcida organizada do clube, Gaviões da Fiel, convocou seus integrantes, pediu que os sócios do Corinthians votem e afirmou que fará uma “manifestação pacífica, mas firme, demonstrando de forma inequívoca” que não aceita as ilegalidades no clube.
Além disso, a agremiação definiu uma possível permanência de Augusto Melo como “insustentável”. “Os indícios que o tornaram réu no Ministério Público de São Paulo (MPSP) deixam claro que sua saída é essencial para que o Corinthians volte a ter rumo”, diz o posicionamento da diretoria da torcida organizada.
O presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, Romeu Tuma Júnior, afirmou, durante uma coletiva de imprensa, realizada no último dia 1° de agosto, que o clube “vai parar” se Augusto Melo for reconduzido ao cargo de presidente.
Nos bastidores, a declaração de Tuma foi vista como uma tentativa de pressão sobre os sócios que decidirão, em breve, se Augusto deve retornar ao cargo.
Caso Vai de Bet
Augusto Melo foi afastado do cargo em meio à investigação policial referente ao acordo de patrocínio firmado entre Corinthians e a empresa de apostas Vai de Bet. Segundo a Polícia Civil, a negociação do contrato teve irregularidades na intermediação.
Augusto Melo, Marcelo Mariano dos Santos, Sérgio Lara Muzel de Moura, Alex Fernanda André se tornaram réus pelos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Vitor Henrique de Oliveira Shimada e Ulisses de Souza Jorge responderão apenas pelo último delito.
Em nota, a defesa de Augusto Melo afirmou que vai pedir os habeas corpus necessários com o objetivo de fulminar esse processo “kafkiano e ilegal”. Além disso, diz que os advogados já pediram que a investigação recaia sob a Policia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal (MPF) e que uma investigação defensiva está em curso e que “comprovará a inocência do presidente legitimamente eleito do Corinthians”.
Por fim, o posicionamento afirmou que Augusto Melo segue confiante “de que a verdade prevalecerá e reitera “seu compromisso com a retomada da organização financeira do clube, que sofreu grande retrocesso desde que ele foi retirado do cargo por seus adversários políticos”.
Desvio para dívidas
Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) no dia 10 de julho, o dinheiro desviado do Corinthians durante a negociação de patrocínio entre o clube e a Vai de Bet era destinado para o pagamento de “prejuízos e dívidas assumidas na campanha” do presidente afastado Augusto Melo.
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Osmar Stábile, à direita, assume a presidência do Corinthians interinamente.
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Augusto Melo também é investigado
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Impeachment de Augusto Melo será votado nesta segunda-feira (26/5)
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Presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo
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Conselho Deliberativo do clube aguarda fim das investigações.
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Augusto Melo foi afastado na última segunda-feira (26/5)
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Augusto Melo é alvo de processo de impeachment por caso Vai de Bet.
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José Manoel Idalgo / Ag Corinthians11 de 12
Augusto Melo é alvo de processo de impeachment por caso Vai de Bet.
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O empresário Augusto Melo, candidato à presidência do Corinthians
Divulgação
O Ministério Público acredita que o esquema criminoso gerou um prejuízo que ultrapassa os R$ 40 milhões ao clube da zona leste de São Paulo. Nessa conta, a promotoria também incluiu o valor da rescisão com a antiga patrocinadora do clube alvinegro, também do ramo de apostas.
Pedido de indenização
Para o pagamento do prejuízo gerado ao Corinthians, no valor de R$ 40 milhões, o Ministério Público pediu que os denunciados paguem a mesma quantia à instituição.
Além disso, para que o valor seja pago em caso de determinação judicial, o Ministério Público também solicitou o sequestro de bens e valores dos denunciados no valor de R$ 40 milhões.
Veja a relação das pessoas físicas e jurídicas mencionadas no confisco dos bens:
- Rede Social Media Design;
- ACJ Plataform;
- Carvalho Distribuidora;
- Thabs Soluções Integradas;
- Wave Intrmediações e Tecnologias;
- Victory Trading Intermediação;
- UJ Football Talent;
- UJ Holding Patrimonial E Investimentos;
- Augusto Pereira De Melo;
- Marcelo Mariano Dos Santos;
- Sérgio Lara Muzel De Moura;
- Alex Fernando André;
- Victor Henrique De Oliveira Shimada;
- Ulisses De Souza Jorge.
O que dizem as defesas
Ao Metrópoles, a defesa de Augusto Melo, chefiada por Ricardo Jorge, afirmou que o trecho da denúncia que cita os desvios de dinheiro para o pagamento de dívidas de campanhas e enriquecimento próprio “não se sustenta diante dos fatos”.
O advogado diz que não havia dívida financeira relacionada a campanha de Augusto Melo à presidência do Corinthians visto que o processo eleitoral foi marcado “pela simplicidade e pelo engajamento espontâneo dos seus apoiadores”.
“Tratou-se de uma candidatura modesta, sustentada basicamente pela arrecadação voluntária das chapas aliadas e de corintianos comprometidos com a mudança. Portanto, a tese de que haveria desvio de verba para quitar compromissos eleitorais cai por terra diante da própria realidade financeira da campanha”, diz a defesa.
Os advogados terminam dizendo que o contrato firmado entre Vai de Bet e Corinthians passaram pelos trâmites institucionais do clube. “Nada foi feito à margem da administração regular, tampouco de forma clandestina”.
“A tentativa de associar a imagem do presidente a um suposto enriquecimento ilícito revela mais uma intenção política do que uma busca genuína pela verdade”.
Já a defesa da empresa UJ Footbal Talent e do respectivo sócio Ulisses De Souza Jorge afirmou que estão “estarrecidos” e que repudiam a acusação do Ministério Público (MPSP).
Segundo a equipe de advogados, chefiada por Daniel Leon Bialski, Ulisses nunca foi chamado ou convocado a prestar esclarecimentos sobre os fatos, o que na visão dos defensores “evidencia o quão absurda é essa imputação”.
A nota de defesa ainda finaliza definindo a denúncia como arbitrária e que irá se manifestar na Justiça.
A EMS informa que não tem relação com o Corinthians.
Dívidas de campanha teriam resultado em ameaça de morte
O Metrópoles também obteve o inquérito policial a respeito do caso. O documento cita que Augusto Melo teria sido ameaçado de morte por um agiota da zona leste de São Paulo, por conta de dívidas acumuladas das campanhas eleitorais para a presidência do Corinthians em 2020 e 2023.
As ameaças foram apresentadas ao Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) da Polícia Civil em uma denúncia anônima, em dezembro de 2024. No documento, o denunciante diz que Augusto Melo recebeu muitas doações nas duas campanhas eleitorais, dando a entender que os doadores seriam “empresários de jogadores de base; esse monte de MC; um empresário com atuação no futebol do time de São Bernardo do Campo, laboratório EMS, de Campinas; e um doleiro do Tatuapé”.
Segundo o inquérito policial, a denúncia diz que as doações foram tratadas como “dívidas” e foi asseverado que um agiota da zona leste paulistana estaria no “encalço de Augusto”, ameaçando-o de morte, caso o valor não fosse pago.
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Outra parte da carta denunciante se refere ao mandatário afastado e ao seu grupo dizendo que “agora ele teria que pagar tudo o que havia recebido nas duas campanhas [2020 e 2023]. Se não pagar já sabe como os caras fazem”.
A carta ainda diz que Augusto Melo teve que usar colete a prova de balas em algumas ocasiões na zona leste porque o agiota que estava lhe ameaçando disse que iria lhe matar se não pagasse a dívida.
Em nota, a EMS informou que não tem relação com o Corinthians.
Indiciamento
A denúncia do MPSP vem após a Polícia Civil de São Paulo indiciar o presidente afastado do Corinthians, os ex-dirigentes Marcelo Mariano e Sérgio de Moura, o empresário Alex Cassundé e Yun Ki Lee, ex-diretor jurídico do clube alvinegro. Os quatro primeiros foram indiciados por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Já Yun Ki Lee foi autuado por omissão imprópria. O ex-diretor jurídico teve inquérito arquivado pelo Ministério Público.
Segundo o inquérito, o contrato entre Vai de Bet e Corinthians não foi intermediado por Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design Ltda, conforme havia sido informado nos trâmites da negociação. A constatação foi feita a partir de algumas inconsistências nos depoimentos dos envolvidos, principalmente sobre o encontro que apresentou o mandatário afastado do Corinthians e Alex Cassundé.
O relatório policial aponta que os verdadeiros intermediadores do contrato firmado entre as duas partes, no valor de R$ 360 milhões foram Antônio Pereira dos Santos (conhecido como Toninho), Sandro dos Santos Ribeiro e Washington de Araújo Silva. “Isso nos está muito claro”, escreve a autoridade policial no inquérito.
O esquema criminoso, segundo a polícia, envolveu outras empresas laranjas Wave Intermediações, UJ Football e Victory Trading Intermediação.
O que diz a defesa de Augusto Melo sobre denúncia
Em nota, a defesa de Augusto Melo, chefiada pelo advogado Ricardo Jorge, afirmou que recebeu a denúncia sem surpresa, visto que “uma investigação tão prolongada, mantida ativa por tanto tempo, apontava para o oferecimento de denúncia como desfecho natural, ainda que previsível”.
Apesar de já esperar o movimento da promotoria, o advogado disse que a denúncia carece de clareza e objetividade.
“Não há uma descrição cronológica coesa dos fatos que permita compreender, de forma técnica e precisa, qual seria a conduta delituosa imputada ao presidente.”
Além disso, definiu o documento como uma narrativa genérica e pouco fundamentada. Por fim, os advogados disseram que confiam “que a verdade será restabelecida no curso do processo, com o devido respeito aos direitos e garantias constitucionais do presidente Augusto Melo”.
O Metrópoles não localizou a defesa dos demais denunciados.
Quem é Augusto Melo
- Augusto Pereira de Melo nasceu em 28 de janeiro de 1964 em Itambé, no Paraná.
- Ele se mudou para São Paulo ainda jovem e mora na zona leste da cidade.
- Augusto é empresário no setor têxtil e também é proprietário de quadras esportivas e estacionamentos.
- É sócio do Corinthians há cerca de 40 anos.
- Foi conselheiro do clube entre 2012 e 2017.
- Augusto também foi assessor da base do futebol do Corinthians durante a gestão de Roberto de Andrade, quando a base conquistou Mundial Sub‑17 (2015), Taça BH (2015) e Copa do Brasil Sub‑17 (2016).
- Em 2018, foi candidato a 2º vice na chapa “Corinthians Mais Forte” e ficou em 3º lugar com 803 votos.
- Em 2020, concorreu à presidência do clube e recebeu 939 votos, ficando em 2º lugar, perdendo para Duílio Monteiro Alves, que teve 1081 votos.
- Em 2023, candidato à presidência novamente; venceu com 2771 votos contra 1413 do segundo colocado.