Uma obra bilionária projetada pela Prefeitura de São Paulo vai criar uma nova conexão entre as zonas leste e oeste da capital paulista, com uma alternativa para quem hoje cruza a cidade passando pelo Minhocão, no centro, ou pelas marginais.
O projeto, visto como prioridade dentro da gestão Ricardo Nunes (MDB), que quer licitar a obra já no primeiro semestre de 2026, também promete entregar o segundo maior parque linear de São Paulo em extensão, que será construído junto à via.
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A intervenção vai remodelar o trânsito local de bairros como Bom Retiro, Pari e Belenzinho, com a criação de uma avenida paralela à Marginal Tietê. O novo trecho funcionará como um prolongamento da Avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste, que irá até a Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, na zona leste.
“A gente só tem uma via com essa característica de ser uma paralela ao [rio] Tietê próximo dali, que é a Marquês de São Vicente, por isso falamos em prolongamento dela. [A futura avenida] vai encontrar diversos viários que hoje são pequenos e conectá-los”, explica Pedro Martim Fernandes, presidente da SP Urbanismo e nome à frente do projeto na prefeitura.
Ele afirma que o projeto deve absorver parte do trânsito de veículos entre os bairros da região central e oferecerá outra opção para quem utiliza a ligação leste-oeste, passando pelo Elevado João Goulart, o Minhocão. A mudança acontece em um momento de debate sobre o futuro do elevado, que deve ser desativado nos próximos anos.
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Elevado João Goulart, o Minhocão, em São Paulo
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Minhocão é utilizado para lazer à noite
Divulgação / Prefeitura de SP3 de 4
Em junho de 2025, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) ocupou o canteiro de obras do Minhocão na manhã desta sexta (13/6) contra o projeto da Prefeitura de vagas de estacionamento no local
Reprodução/Comunicação MTST4 de 4
Os críticos dizem que o intuito da prefeitura é retirar os moradores de rua que vivem sob o viaduto
Murilo Azevedo/Prefeitura de São Paulo/Divulgação
Desapropriações
Para construir a nova avenida, a obra vai alargar vias já existentes e abrir novos caminhos em áreas que serão desapropriadas. O decreto de utilidade pública que dará início ao processo de desapropriações na região já está pronto e deve ser publicado no Diário Oficial nos próximos dias.
Um dos locais que serão desativados para a construção da avenida é a unidade da Vila Reencontro no Pari, que recebe pessoas em situação de rua. A prefeitura prevê transferir a iniciativa para um terreno vizinho no mesmo bairro. Outra área municipal alvo do projeto fica ao lado do Centro de Operações da SPTrans, também no Pari — o centro será mantido no local.
Nos quilômetros finais, a futura avenida deve cruzar parte do terreno da Associação Desportiva da Polícia Militar de São Paulo e do Parque Estadual do Belém Manoel Pitta – este último terá parte das árvores retiradas para a obra.
“Esse é um dos poucos trechos que tem uma arborização, mas a gente fez ajustes para reduzir bastante [o desmatamento]”, afirma Pedro.
Os bairros cruzados pela futura avenida têm pouca cobertura vegetal. Dados do Mapa da Desigualdade mostram que o distrito do Pari, por exemplo, tem apenas 14,79% de sua área total arborizada. O vizinho Brás é o distrito com menor proporção de área verde da cidade, com cobertura vegetal em somente 5,57% da área.
Por isso, Pedro diz que o projeto prevê criar um parque linear na via que pode chegar a 6,5km de extensão, a maior entre todos os parques lineares municipais da cidade.
“É uma via que vai ter intensa arborização, sombreamento, para evitar essa ilha de calor, que é essa região hoje”, diz Pedro.
Atualmente, o parque linear mais longo da capital é o Parque Estadual Bruno Covas, na Marginal Pinheiros, segundo dados das secretarias municipal e estadual do Verde e Meio Ambiente.
Maiores parque lineares em extensão da capital paulista
- 1º – Parque Linear Bruno Covas – 8,2 km.
- 2º – Parque Linear Ribeirão Caulim – 2.937 metros.
- 3º – Parque Linear Tiquatira – Engenheiro Werner Eugenio Zulauf – 2.888 metros.
- 4º – Parque Linear Itaim Paulista – 2.548 metros.
O parque que será construído no prolongamento da avenida Marquês de São Vicente terá 90 mil m² , sendo menor em área total, portanto, que outros parques do mesmo tipo na cidade. O Tiquatira, por exemplo, que fica em uma área mais “larga”, conta com uma área total de 192 mil m².
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Parque Estadual Bruno Covas é o maior parque linear da capital paulista, com 8,2 km de extensão
Divulgação / Governo de SP2 de 9
Parque Estadual Bruno Covas fica ao lado da Marginal Pinheiros
Divulgação / Governo de SP3 de 9
O Parque Linear Tiquatira é considerado o primeiro parque linear da cidade de São Paulo
Rebeca Ligabue/Metrópoles4 de 9
Atualmente, o Parque Linear Tiquatira é formado por mais de 160 espécies de árvores da Mata Atlântica
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A cada 12 árvores, uma é frutífera, necessariamente frutas silvestres
Rebeca Ligabue/Metrópoles6 de 9
Seu Hélio se dedica há 22 anos ao Parque Linear Tiquatira, o qual deu início em 2003
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O termo “parque linear” representa a área verde que tem mais comprimento que largura
Rebeca Ligabue/Metrópoles8 de 9
Parque Linear Ribeiro Caulim, na zona sul, é o maior parque municipal da cidade em extensão, com 2.937 metros
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Parque Linear Itaim tem 2,5 km
Joca Duarte / Divulgação Prefeitura de São Paulo
Boulevard Marquês de São Vicente
Além do parque linear, o projeto da prefeitura também prevê a criação de uma ciclovia, uma faixa de moto, duas faixas para automóveis e corredor de ônibus.
Na parte mais larga, a avenida terá 44 metros. Nos trechos mais estreitos, serão 38 metros, com a supressão do parque no meio, e a manutenção apenas das faixas de árvores nas laterais, chamada de “calçada-parque” no projeto.
Veja abaixo como será a avenida:
Dentro do governo, a obra da futura avenida tem sido chamada de “Boulevard Marquês de São Vicente”.
Requalificação do centro
A ideia se baseia em uma lei de melhoramentos viários, aprovada em 2016, ainda na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), e no Plano de Intervenção Urbana (PIU) do Setor Central, de 2022. Ambos os documentos já previam a criação de uma avenida paralela à Marginal Tietê.
Pedro defende que o projeto é mais que uma intervenção viária e busca atender a meta de adensar o centro da cidade, proporcionando qualidade de vida para a população.
“A gente precisa trazer 200 mil moradores para o centro nos próximos 8 anos para cumprir as metas do PIU Setor Central. […] E eu só vou ocupar isso se a gente tiver qualidade urbana. Não é com uma via expressa. A gente só vai ocupar essa região se tiver árvore, sombra, se a drenagem for suficiente, se tiver calçada, transporte coletivo…”.
O arquiteto afirma que o projeto olha para o centro para além dos bairros como a Sé e a República, e em uma área que também precisa ser requalificada.
“A gente tem pressa para a recuperação do centro. E não estamos falando só do centro ‘Sé e República’. Estamos falando do centro que é o Canindé, Pari, Bom Retiro. É o todo do PIU Setor Central”.
O valor da intervenção é estimado em R$ 1,1 bilhão pela prefeitura, sem contar os gastos com desapropriações. A expectativa é que o projeto completo seja apresentado e debatido em audiências públicas nos próximos meses. Se a licitação for publicada em 2026, a finalização das obras é esperada para 2029.