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Procurador cita Porsche de juiz e lamenta sua “classe social inferior”

Uma troca de mensagens entre membros do Ministério Público de São Paulo (MPSP) no WhatsApp mostra o descontentamento de procuradores por não receberem salários equivalentes e nem terem o mesmo padrão de vida dos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

No grupo de WhatsApp, intitulado “Equiparação Já”, o procurador Marcio Sergio Christino (foto em destaque) comenta que os magistrados estão andando de Porsche e que os membros do MPSP são considerados de uma “classe social inferior”, segundo mensagens obtidas pelo Metrópoles.

“Vocês já andaram de Porsche hoje?”, questionou Christino no sábado (20/9), antes de relatar um almoço com desembargadores proprietários de carros da marca luxuosa.

“Parece que ficamos acostumados com o desnível financeiro e social que nos colocamos em relação à Magis [magistratura]”, disse o procurador. “Só lembrei disto agora porque no Instagram de um desembargador amigo está uma foto dele andando de Porsche pela Rodovia Bandeirantes com o teto solar aberto. Isto me lembrou do almoço onde eles [desembargadores] discutiam justamente isso. E lembravam que os três comensais haviam comprado o mesmo carro”, completou.

Na sequência, o procurador lamenta que os vencimentos pagos aos membros do MPSP estão mais próximos ao dos servidores do órgão do que ao dos magistrados.

“Vcs sabiam que percentualmente a diferença entre nós e os desembargadores é maior que a diferença entre nós e os analistas? Ou seja, estamos mais perto de sermos vistos financeiramente como funcionários do que como iguais. Não é à toa que os sorrisos maliciosos nos sejam dirigidos. A ideia de sermos secretários de juízes está fazendo escola. Infelizmente. Isto confirma o que eu havia dito antes: agora estamos em uma classe social inferior”, desabafou Christino.

A conversa sobre os carros de luxo continuou durante a semana e recebeu o apoio de outra procuradora, Valéria Maiolini, que fez o relato de um juiz que acabara de comprar seu terceiro carro de colecionador, acumulando R$ 1 milhão em carrões, enquanto os membros do MPSP brigavam “para receber o mínimo”.

“Um conhecido meu juiz acabou de comprar o terceiro carro de colecionador! Mais de 1 milhão só em carros de colecionador para ficar na garagem e sair só de final de semana! E nós aqui precisando brigar para receber o mínimo do que temos direito”, disse Valéria, que recebeu R$ 90 mil só no mês de junho deste ano e tem média salarial de R$ 70,8 mil nos últimos 9 meses.

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O grupo de Whatsapp “Equiparação Já” foi criado para reivindicar uma carreira para promotores e procuradores com vencimentos semelhantes aos da magistratura. Nele, os membros do MPSP defendem penduricalhos, que são benefícios e remunerações extras dadas a servidores públicos, hostilizam colegas que se opõem aos privilégios e ridicularizam outras carreiras, como a de professores.

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Em uma das conversas, Christino diz que os vencimentos dos membros do MPSP estavam se equiparando aos do “magistério”, em vez de se aproximar aos da magistratura. “E, pior não há mudança de perspectiva à vista, estamos nos tornando igual a magis… magistério”, ironizou.

“O vazador está aqui e agora”

Ao ser questionado pelo Metrópoles, o procurador Márcio Christino, inicialmete, pôs em dúvida a autenticidade das mensagens. “Informação anônima não confirmada é de uma irresponsabilidade total e dá motivo para medidas legais cabíveis. Desconheço esta conversa e lamento que o site seja manipulado dessa forma”, disse.

No entanto, logo em seguida, o próprio procurador foi ao grupo reclamar do vazamento, em mensagens às quais Metrópoles também obteve acesso. “O vazador está aqui e agora vigiando quem fala criticamente do PGJ”, disse no grupo.

Ao Metrópoles, Christino completou afirmando que se trata de “disputa eleitoral” já que o Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) escolherá novos diretores em dezembro deste ano.

Para o procurador, as conversas foram expostas para a imprensa porque ele é candidato de oposição ao grupo do atual chefe do MPSP, o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa.

“O MP está em época de disputas eleitorais e sou candidato, evidente a intenção de interferir no processo eleitoral. Isto mostra como o processo político interno transborda. Especialmente para quem contesta ações e omissões da própria instituição”, disse Christino.

“Grupo sindical”

A posição é corroborada pelo procurador Luiz Faggioni, que se descreve como “diretor do grupo”. Ele diz que o grupo está em campanha salarial e trata-se de uma reivindicação sindical, expressa por uma ironia, não pela vontade de andar de Porsche.

“É um grupo sindical, que quer ganhar aquilo que a magistratura ganha, que busca ganhar aquilo que a magistratura ganha. Era uma ironia”, explicou Faggioni, administrador do grupo no WhatsApp. “Parece que ‘ai meu Deus, os caras tão querendo andar de Porsche’… Não é isso”, acrescentou.

No próximo 6 de dezembro, os promotores e procuradores de São Paulo escolhem o próximo Conselho Superior do Ministério Público (CSMP). Christino é o único candidato de oposição, que não tem ligação com o atual procurador-geral de Justiça (PGJ).

Na situação, o subprocurador-geral Wallace Paiva deve capitanear uma das candidaturas. O ex-subprocurador-geral José Carlos Cosenzo também deve disputar a eleição do CSMP. Ele concorreu para ser PGJ, ficou em primeiro da lista tríplice, mas não foi escolhido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que preferiu Oliveira e Costa, o terceiro colocado daquela disputa.

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