Nas unidades de saúde do Distrito Federal, essa mudança já é percebida. O pediatra Luis Henrique, do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), explica que o aumento do excesso de peso entre crianças está diretamente ligado ao consumo de produtos industrializados e ao sedentarismo.
“Hoje, alimentos congelados, embutidos e prontos para consumo acabam sendo mais baratos e práticos do que frutas, verduras e carnes. Isso, somado ao tempo excessivo em frente às telas, faz cada vez mais crianças ganharem peso”, observa.
Segundo ele, as consequências surgem cedo e não devem ser subestimadas. “Estamos vendo meninos e meninas desenvolverem diabetes tipo 2, hipertensão, problemas ortopédicos e até doenças cardiovasculares muito jovens. Além disso, há efeitos emocionais, como bullying e baixa autoestima. Se essa condição se prolonga, vira uma bola de neve difícil de controlar na vida adulta.”
“Quanto mais cores no prato, melhor, sempre priorizando alimentos locais e naturais. Muitos pais trocam o refrigerante pelo suco de caixinha achando que é saudável, mas não é”Ingrid Oliveira, nutricionista do Hospital Regional de Santa Maria
Má nutrição: um novo retrato
Antes, falar em crianças malnutridas significava pensar em baixo peso por falta de comida. Hoje, a realidade é outra: muitos garotos e garotas têm alimento disponível, mas não recebem nutrientes suficientes para uma dieta equilibrada.
Estudos mostram que a desnutrição ainda é preocupante em crianças menores de 5 anos em países de baixa e média renda. Já entre escolares e adolescentes, o excesso de peso é a condição mais comum.
Situação no Brasil
No Brasil, a obesidade já havia superado a subnutrição antes do ano 2000. Na época, 5% das crianças e adolescentes de 5 a 19 anos conviviam com o problema. Esse índice triplicou até 2022, chegando a 15%.
O Unicef alerta que, sem políticas eficazes de prevenção, os custos podem ser altos. Até 2035, a obesidade e o sobrepeso devem gerar um impacto econômico superior a US$ 4 trilhões por ano no mundo.
Apesar disso, o país foi citado como exemplo positivo por medidas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que restringe ultraprocessados nas escolas, além da rotulagem frontal de alimentos e do banimento de gorduras trans.